Cadeia: relatos sobre mulheres, de Débora Diniz
Comecei a leitura desse livro com curiosidade para conhecer um pouquinho de como funciona o cotidiano de um presídio. Terminei-a em lágrimas, e essas se devem à profundidade do drama e das mazelas humanas narradas pela cientista social Débora Diniz, responsável por trazer ao público não só essa, mas muitas outras denúncias sociais através de livros e de documentários.
A obra é organizada em vários capítulos curtos, cada um dedicado a uma história, cuja protagonista recebe um nome ficitício, pois todas as situações expostas não são, infelizmente, “privilégio” de somente uma detenta, e sim um mesmo sofrimento compartilhado por inúmeras mulheres. Tal divisão em partes enxutas permite que a leitura seja feita em ordem aleatória, sem necessariamente seguir a ordem do livro.
Temas como tráfico de drogas, vícios, doenças sexualmente transmissíveis, transtornos psicológicos, e, principalmente, abandono são trazidos à tona e transformam-se em rotina num local onde a complexidade humana é reduzida aos ditames rígidos da lei.
Sua linguagem inicialmente provoca estranhamento no leitor, isso porque Diniz opta por conduzir os relatos usando o vocabulário do meio em que eles foram registrados, ou seja, o texto é construído pela presença de gírias próprias do ambiente prisional. Assim, transcorrem-se alguns capítulos até que termos como “catatau”, “laranjinha” e muitos outros sejam assimilados com naturalidade pelo leitor.
No entanto, o principal ponto a ser ressaltado acerca de “Cadeia: relatos sobre mulheres” supera o sofrimento individual de cada narrativa – o que já seria suficiente para avaliar positivamente a obra – para despertar nas mentes interlocutoras algumas reflexões: em tempo de massacres em presídios por todo o país, não seria hora de reavaliar a eficácia de se confinar criminosos de diferentes níveis (como um ladrão autor de um único assalto desarmado e um assassino) em um mesmo local, onde o conhecimento sobre práticas violentas só aumenta? E, para eficientizar o combate ao crime, os esforço iniciais não deveriam ser realizados com crianças em situação de marginalização, para impedir que suas juventudes marquem a entrada para o crime?
Minhas impressões sobre a obra:
Aprecio muito a leitura de relatos sobre situações da realidade nacional. Mas esse foi um dos que mais me atingiu, pois chama a atenção para a vida de mulheres que são simplesmente ignoradas pelo restante da sociedade, inclusive pelas autoridades, responsáveis por julgamentos equivocados em não raras vezes. Outro item que despertou minha atenção foi a temática da liberdade, algo a que todos estamos acostumados e cuja ausência no âmbito físico, pode levar ao aprisionamento psicológico, desfecho também comum entre as personagens. Por fim, a curta extensão do livro reforça minha avaliação positiva e recomendação de leitura.
Rafaela Zimkovicz
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